Vida – Leandro Soriano Marcolino
Sinopse
Imagine um mundo onde a biotecnologia
está em seu ápice. Onde é comum ter robôs que se assemelham a seres biológicos,
substituindo os cachorros como animais preferidos de estimação. Recriar membros
amputados é algo simples, e feito com tal perfeição que se torna difícil
diferenciar a prótese do membro original. Neste mundo de infinitas
possibilidades, Luíza sofre um acidente de carro com seu marido, Rodrigo. Ele
entra em coma. Luíza deve aceitar a perda do marido?
Luíza e Rodrigo saem de uma festa de
madrugada e, quando o marido alcoolizado pergunta se a esposa poderia dirigir
ela se recusa, alegando que não dirige bem à noite. Na estrada, sofrem um
acidente de carro e, ao despertar, Luíza se vê num hospital prestes a fazer uma
cirurgia para a amputação de uma perna com seu marido em coma. A partir daí
acompanhamos o triste desenrolar do dia-a-dia da esposa submissa que se vê, de
repente, sem seu ponto de referência, o marido, obrigada a acompanhar o sono
constante do esposo. No início ainda há esperança para Rodrigo, mas quando fica
claro que o estado de saúde dele não vai melhorar e que, se ele voltar do coma,
terá sequelas para sempre, o médico responsável dá à Luíza uma decisão: deixar
seu marido definhar e morrer, ou autorizar a eutanásia para que ele possa fazer
um transplante do órgão doente por outro construído artificialmente: o cérebro.
Acompanhamos, então, Luíza e seu
dilema para decidir se deve ou não autorizar que seu marido tenha o cérebro
substituído por um artificial, enquanto tenta entender se o que voltaria seria
o mesmo homem que ela conheceu, ou apenas uma réplica.
Há todo o drama envolvendo o coma de
Rodrigo, e o leitor pode acompanhar o desenvolvimento de Luíza, recuperando-se
aos poucos e voltando à vida como uma náufraga. Existe um conflito entre Luíza
e os pais de Rodrigo, pois estes querem que ela autorize o procedimento o mais
rápido possível, enquanto ela está insegura e quer pensar com cuidado antes de
tomar qualquer decisão. Um ponto interessante foi a inserção de Frank, o cão
artificial de Luíza com seu comportamento quase natural, mas ainda assim
artificial. O animal-robô torna-se um paralelo de comparação para Luíza se
decidir em relação a seu marido.
O enredo é promissor e a ideia
realmente faz o leitor refletir sobre os limites da aplicação da tecnologia na
vida humana, e no que um ser humano pode se tornar, caso use a tecnologia
indiscriminadamente. No entanto, a narrativa é um tanto prolixa e cansativa.
Por várias vezes o autor faz uma pausa para fazer uma reflexão pessoal sobre dramas
existenciais. Li na introdução de “Sombras da Noite” (infelizmente não me
lembro do nome de quem a escreveu), que o que o bom livro faz de melhor é levar
o leitor para dentro da história como se estivesse viajando junto com os
personagens, de modo que ele se esqueça de que está apenas lendo um livro.
Essas exaustivas pausas reflexivas fazem justamente o contrário, lembrando ao
leitor, o tempo todo, de que ele está apenas lendo uma história. Aliás,
exatamente na metade do livro, e duas vezes depois disso, o autor chega a
introduzir expressões como “… não é a primeira vez que aparece neste livro”, ou
“mais uma vez neste livro”. Foi bom ter aparecido apenas no meio do livro da
primeira vez, pois senão teria abandonado o livro logo no início, pois as
expressões em questão fazem com que todo o drama se perca para dar lugar a algo
mais parecido com um livro de autoajuda ou de autoconhecimento.
O autor optou por explorar quase que
absolutamente o dilema emocional de Luíza e, embora exista claramente um mundo
de inovações tecnológicas ao redor, estas ficaram limitadas ao cérebro
artificial, à perna quase natural que Luíza recebe e aos robôs, presentes em
toda parte. A introdução dos robôs na sociedade poderia ter sido mais bem
trabalhada, assim como as implicações de ter um marido com um cérebro
artificial e as discussões sobre o procedimento com os pais de Rodrigo.
Tem um português impecável e um
argumento muito interessante, e tenho certeza de que outras pessoas possuem
opiniões diferentes, mas não me cativou.
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