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18 de fev. de 2015

Sombras da Noite – Stephen King - Resenha




Sinopse
Stephen King reúne aqui 20 de seus mais inquietantes contos- relatos de acontecimentos bizarros e atos impensáveis, surgindo daquela região crepuscular onde ruídos nas paredes e sombras perto da cama prenunciam algo terrível que ronda à solta. Os cenários são familiares e acima de qualquer suspeita - um colégio, uma fábrica, uma lanchonete rodoviária, uma lavanderia, um milharal. Mas no mundo de Stephen King, qualquer lugar pode servir como território sobrenatural. Só é necessária uma hora propícia da noite e a distração das vitimas. Alguns desses clássicos inspiraram filmes memoráveis: As Crianças do Milharal (Colheita Maldita) O Homem do Cortador de Grama (O Passageiro do Futuro), A Máquina de Passar Roupa (Mangler: O Grito de Terror) e Às Vezes Eles Voltam.



Considerações
O interessante ao falar sobre as histórias de terror é que as boas mesmo são as piores, aquelas que transferem o leitor para a pele do personagem e o faz tremer de medo. No livro Sombras da Noite, Stephen King nos mostra como é possível fazer esse jogo com uma quantidade mínima de páginas, criando, a cada conto, ambientações críveis e personagens mais bem construídos que muitos heróis dos romances que vemos hoje em dia. São vários contos de terror e suspense, e muitos deles não possuem nem um pingo de sobrenatural (esses são os mais terríveis, por me fazerem pensar em como podem estar próximos de nós). Todos, porém, têm algo em comum: deixam margem ao leitor para que ele complemente a história com sua própria imaginação, que acaba criando asas mesmo sem que ele queira.
Talvez o mais interessante seja apanhar o livro como eu, sem ter ideia de quais contos são terror, suspense, ou quais têm teor sobrenatural ou não, pois assim a surpresa é muito maior. Mas vou falar um pouquinho de cada conto individualmente, mas vou tentando não revelar muito, já que os contos são pequenos - um deles tem apenas sete páginas.

Jerusalem's Lot: O conto que abre o livro nos leva à mansão herdada por Charles numa cidade vizinha a Jerusalem’s Lot. Como eu tinha acabado de ler ‘Salem, fiquei ansiosa por voltar àquele cenário amaldiçoado, e perceber, mais uma vez, o quanto o jogo Silent Hill se parece com (ou se baseia na) obra de King, ao introduzir outras histórias e outros personagens num mesmo ambiente sinistro. O conto é narrado através da correspondência que Charles troca com um amigo, onde ele conta, passo a passo, como é sua nova vida e a de seu criado na mansão tida pelos moradores como amaldiçoada, e como segredos enterrados no escritório do falecido dono leva Charles a descobrir qual é a misteriosa relação que sua família tem com a cidade vizinha, tida como fantasma e onde ninguém quer pisar. O resultado da expedição é simplesmente aterrador.

Último Turno: Trabalhadores ficam fazendo serão na fábrica têxtil fechada para ganhar uma grana extra durante dias em que a fábrica ficaria fechada. Mas em porões onde ninguém pisa há décadas, a escuridão assume suas próprias formas. Pra quem tem medo de coisas rastejantes no escuro, esse conto vai causar uns bons pesadelos...

Ondas Noturnas: Mais um conto com ambientação em um cenário de outro livro, este ambientado no pós-apocalíptico Dança Mortal, que eu não li. Mostra um pouquinho das relações entre um grupo de sobreviventes em um mundo devastado por um vírus letal, podendo ser os últimos humanos na Terra, e nos mostra como a natureza humana pode ser destruidora sem as amarras da sociedade.

Eu Sou o Portal: Este terrível conto conseguiu me transportar para a pele do astronauta que, após uma missão à órbita de Vênus, é… abduzido? Dominado? Possuído? Nem sei que nome dar pra aquilo. O que King consegue criar é um tipo de dominação tão absurdamente terrível e bem descrita que é impossível não sentir o terror daquele homem.

A Máquina de Passar Roupa: quem nunca se preocupou com seus dedinhos perto demais de uma máquina de costura ou de um triturador de alimentos? A máquina de passar roupa, uma terrível máquina enorme cheia de rolos compressores, me lembrou de quando eu trabalhei numa gráfica e tinha aflição de ver o pessoal tão próximo às guilhotinas de papel. Só que lá as máquinas não tinham vontade própria...

O Bicho-Papão: No divã de um psiquiatra, um homem relata como seus três filhos foram mortos por uma criatura de trevas, mesmo com a certeza de que o doutor não vai acreditar no que ele diz. No entanto, essa consulta guarda uma revelação terrível.

Massa Cinzenta: O filho de um colega de bar entra no boteco pedindo desesperadamente ajuda aos amigos do pai. Ele conta que o pai bebeu uma cerveja com algo estranho, e que depois disso vem se transformando. Os amigos partem para a casa do homem, que não veem há vários meses, para descobrir como ajudá-lo… Só não imaginam quão grave é o mal que se apossou do colega. Um dos melhores contos simplesmente por colocar o leitor em expectativa o tempo todo.

Campo de Batalha: Um conto de enredo bem estranho, mas muito bom. Um assassino profissional está voltando de sua última execução, o dono de uma fábrica de brinquedos, quando recebe um pacote da mãe do morto: um pelotão de soldadinhos de brinquedo. O que ele não esperava é que os soldados tivessem vida, e que lutariam uma verdadeira guerra para vingar a morte do seu inventor.

Caminhões: Esse conto vai me assombrar por vários anos, tenho certeza. Um grupo de pessoas está sitiada em uma lanchonete de um posto de gasolina. Lá fora, caminhões e caminhonetes passeiam ameaçadores, esperando pela saída de qualquer um deles para passar por cima, e esmagar como se fossem moscas. E a fuga parece cada vez mais difícil, à medida que mais caminhões se unem ao grupo, tornando a tensão palpável para o leitor.

Às Vezes Eles Voltam: Após a morte de seu irmão na infância, assassinado por uma gangue de adolescentes na sua frente, um professor passou a sofrer com ataques de pânico e pesadelos. Mas o impossível acontece e ele se vê obrigado a lecionar exatamente para os assassinos de seu irmão… que não envelheceram nem um dia naqueles quinze anos que se passaram e o pior: estão fazendo mais vítimas. Para deter o bando infernal, o professor procura toda a ajuda que pode conseguir, e o resultado do embate final entre eles pode não ser nada agradável…

Primavera Vermelha: Anos atrás, um assassino misterioso fez várias vítimas num campus universitário e nunca foi pego. Agora ele está de volta, e um dos alunos relembra, com temor os dias de pânico do passado, se perguntando se eles voltarão. Este conto, junto com O homem que adorava flores, são os que mais me deram arrepios, por serem tão plausíveis e tão tenebrosos.

O Ressalto: Um magnata faz uma proposta ao amante de sua esposa: se conseguir contornar o prédio em que ele mora no 30° andar, caminhando pelo ressalto de doze centímetros do lado de fora do prédio, poderá sair vivo, com um bom dinheiro e com a mulher que ama. Sem escolha, o rapaz começa sua jornada aflitiva. O final deste conto não poderia ser melhor, não depois de me manter praticamente de respiração suspensa, com medo de fazer o tenista despencar dos doze centímetros que o separam da morte certa.

O Homem do Cortador de Grama: Ao contratar o serviço de um homem com cortador de grama pelo jornal, o senhor descobre que os métodos pouco tradicionais que o jardineiro utiliza podem custar bem mais que o pagamento combinado… De todos, foi o conto que menos gostei, achei-o muito sem graça.

Ex-Fumantes Ltda: Rapaz, esse conto é impressionante. Um homem encontra um antigo colega de escola que visivelmente melhorou de vida e de saúde, e este lhe conta que as reviravoltas em sua vida aconteceram depois que ele parou de fumar. Pensando que, talvez, valha a pena tentar, o fumante vai à clínica indicada pelo amigo e começa o tratamento imediatamente… Um tratamento 100% eficaz.
Meu marido é fumante e várias vezes quis que ele tentasse parar, mas os métodos utilizados nesta história me fizeram pensar duas vezes se qualquer tratamento seria válido. Dei o conto para que ele lesse também, principalmente porque acho que outro fumante consegue sentir mais empatia pelo personagem obrigado a largar o vício de forma tão brutal, e o resultado foi que meu marido ficou mais impressionado que eu, e elaboro um monte de teorias a respeito dos métodos da empresa. A intensidade com que King nos atinge com esta história é aflitiva. Primoroso.

Eu Sei do que Você Precisa: A mocinha do conto se apaixona por um rapaz educado e encantador, que parece saber tudo o que ela precisa o tempo todo. Mas a melhor amiga desconfia desta compatibilidade toda e vai investigar o misterioso rapaz, e descobre que ele tem um segredo macabro. Apesar de legal, o conto não me causou muito impacto, a não ser pelo fato de ser o único com uma protagonista feminina neste livro.

As Crianças do Milharal: Um casal em crise está perdido numa estrada no meio de um milharal sem fim, e no meio da estrada, um garoto aparece na frente do carro e eles o atropelam. Ao procurar por ajuda na cidade mais próxima, porém, eles descobrem que o local está abandonado há tempos, embora uma única construção permaneça bem cuidada: a Igreja, cujo letreiro foi removido e onde, no interior, encontram indícios de um culto estranho a uma entidade que caminha atrás das fileiras de milho. Na cidade, só restaram crianças, e nenhuma delas parece amigável.
Terrível, um dos melhores contos, e quando você pensa que entendeu toda a loucura atrás dele, descobre que quem você achava que eram os vilões nada mais são que um tipo diferente de vítimas.

O Último Degrau da Escada: Um rapaz voltando de viagem recebe uma carta de sua irmã, contendo uma única frase, capaz de mudar a vida dele para sempre. Para falar sobre esta frase, o rapaz conta o que aconteceu no celeiro da fazenda onde eles viviam quando crianças, quando o último degrau de uma velha marcou para sempre as duas crianças e selou seus destinos.
Comovente, impressionante, um conto que deixa o leitor colado às páginas de respiração suspensa, torcendo pelas crianças no celeiro, e, no final, nos leva a repensar nossos atos e como temos conduzido nossas vidas.

O Homem que Adorava Flores: Acompanhamos o rapaz apaixonado que sai de encontro a sua amada, e o vemos, no caminho, parar para escolher para ela o mais belo buquê de flores. Ele carrega algo no bolso, algo que o deixa momentaneamente perturbado, mas que é tão insignificante que não pode tirar o brilho do amor verdadeiro que ele carrega. No entanto, seu encontro com Nona não poderia ser mais cruel.
É incrível o que Stephen King consegue fazer com sete páginas e algumas palavras. Esta história é tão terrivelmente possível e real, como comprovam quaisquer noticiários, que certamente deixará qualquer leitor apavorado.

A Saideira: Mais uma história que tem por cenário a cidade Jerusalem’s Lot, do livro ‘Salem (A hora do Vampiro). Quando um estranho pede socorro num bar em meio a uma nevasca, dois senhores têm que enfrentar seus medos e a terrível maldição que paira sobre a vizinha ‘Salem’s Lot para resgatar a mulher e a filhinha do homem.
Quem conhece o livro principal sabe de que mal trata o conto, mas após ler o primeiro conto deste livro eu não estava tão segura do que é que os homens iam encontrar na cidade. Jerusalem’s Lot veio para fazer parte dos meus pesadelos para sempre, como a cidade estranha e sinistra onde tudo o que é maligno pode acontecer. Nesta história, porém, o mais assustador acaba sendo a própria nevasca com seus dedos brancos de morte, que da forma como é descrita parece tomar forma e consciência própria. Mais um conto maravilhoso do mestre.

A Mulher no Quarto: O último conto do livro gira em torno do triste dilema de um filho diante da doença terrível da mãe: deixá-la definhar, ou levá-la à eutanásia? A história vai e volta no tempo, revelando que a relação entre os dois nem sempre foi um mar de rosas, mas nos mostra o quanto as relações familiares podem ser complexas, e nos leva a nos perguntar o que é certo e o que é errado numa situação como aquela.

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