Outro dia uma pessoa me perguntou se eu costumo fazer alguma
pesquisa antes de escrever minhas histórias, e achei a pergunta interessante
por vários motivos.
Primeiramente, quando comecei a pensar em “inventar uma
história pra mim”, como eu dizia, eu estava encantada com um desenho japonês,
era criança e não havia internet, portanto o acesso a informações sobre o mundo
no geral era bem limitado. As histórias começaram girando em torno de templos
gregos, e deviam se passar numa ilha da Grécia, coisa e tal, mas, em certo
momento, percebi que não só eu estava apenas tentando repetir algo que já
existia, como não tinha base nenhuma para fazer isso. Da Grécia antiga eu até
tinha bastante material em casa, mas como desejava mudar o cenário para não
ficar tão igual ao desenho, percebi que não havia nenhum lugar do planeta de
que eu pudesse escrever que eu soubesse muita coisa.
Claro, vocês podem perguntar: porque não o Brasil? Na época
eu conhecia tão pouco sobre a história brasileira quanto a de qualquer outro
lugar. Se fosse hoje, eu provavelmente procuraria fontes a respeito da história
pré-colonial — uma história rica, cheia de tribos com rituais e línguas
diferentes, deuses e culturas — mas mesmo hoje teria dificuldade em encontrar
tanto material.
Daí surgiu Bhardo. Percebi que o único jeito de criar algo
original e que não fosse completamente incorreto com a realidade seria criar um
mundo só meu, com um início, uma história, uma geografia e tudo o mais que eu
controlasse.
A única coisa que começou exatamente como é hoje é o nome:
Bhardo. O restante mudou bastante ao longo do tempo. Isso porque, embora seja
um mundo fictício, eu gosto de procurar alguma referência em que me basear, um
paralelo que não torne Bhardo tão surreal, apenas fantástico. Assim, o deserto
Namor n’Chivin é um deserto por ser um território arenoso localizado entre duas
cadeias montanhosas que impedem a chegada de nuvens formadas nos oceanos até ele.
E Terem tem uma área de floresta perene, mas, em sua maior região, é algo
parecido com a taiga, enquanto que Tera, nos limites do mundo habitável, tem um
relevo de tundra, o que torna o relevo de Bhardo quase um contrário do relevo
da Terra. Já a grande tempestade eterna que assola as águas oceânicas entre o
Nepcoutem e a ilha Agerta, esta foi inspirada na Grande Mancha Vermelha, o
enorme anticiclone de Júpiter que está ativo há décadas, talvez séculos.
No finado Orkut havia um tópico em uma comunidade de
escritores de fantasia que debatia a possibilidade de determinados itens
existirem no mundo real, o que é especialmente útil quando se escreve histórias
ambientadas em algum passado específico, na Europa da Idade Média, por exemplo.
É preciso considerar que certos alimentos ou tecidos não existiam na época,
alguns pigmentos só eram usados por reis, e, se o escritor pretende dar
veracidade à trama, precisará pesquisar exaustivamente.
Claro, as licenças poéticas existem aos montes,
principalmente se tratando de fantasia e, no meu caso, Bhardo está cheio delas
— que o digam as três luas multicoloridas do mundo, que me dão um trabalhão a
cada novo livro, pois eu sempre tenho que fazer um calendário lunar para saber
quais luas estão visíveis no céu, em cada fase, durante cada evento. Pesquisar
um pouquinho não custa nada, e só acrescenta à sua obra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário