Zaphir – A Guerra dos Magos, de Gilmar
Milezzi
Sinopse
Imagine uma adolescente com o corpo
magro e desengonçado, que é vista pelas pessoas como uma esquisitona, em razão
do seu jeito estranho e dúbio. Essa é Gabriela, uma menina valente, que gosta
de futebol e jogos de taco, e que não leva desaforo para casa, seja de quem
for. As meninas a detestam pelo pouco apreço que ela demonstra com aquilo que
consideram normal no universo feminino, como roupas e garotos. Os garotos, por
sua vez, não sabem como agir com uma menina que age e se comporta como se fosse
um deles. Eles a chamam de “Perereca Musculosa”, mas ela aparentemente não se
importa com a alcunha. Antes, parece até mesmo esboçar um breve sorriso de
satisfação. Entretanto, o que se vê na aparência nem sempre corresponde à
verdade.
Agora pense num garoto franzino, com
cara e jeito de nerd, imerso numa vida tediosa e sem perspectiva. Imagine-o às
voltas com as dificuldades próprias da idade, em razão da timidez e do
desconforto quase permanente com a sua inadequação social. Esse é Michel, um
garoto solitário e invisível, como tantos que existem por aí e ninguém percebe.
Sua existência é tão introspectiva e sem graça, que o melhor que pode fazer é
sonhar com outra vida. Uma vida em que ele possa lidar com suas dificuldades
com um simples estalar de dedos.
Vamos imaginar agora que as linhas do destino desses adolescentes se cruzam e unem seus sonhos, alegrias e tristezas. Então algo acontece durante um jogo de videogame. Como por um encanto eles se transpõem para outro mundo. Um lugar de magia, onde são pessoas diferentes, com habilidades sobre-humanas e capazes de feitos extraordinários. Você voltaria para a vida anterior, comum e sem graça? Esse é o dilema que se coloca para eles. Desistir não é possível e esquecer-se de si mesmo põe em perigo a própria existência no mundo real. Aos poucos eles percebem que foram pegos numa armadilha, onde a realidade deixa de ser uma certeza e se torna apenas uma questão de ponto de vista.
Considerações
É
emocionante ver um colega de sonho de tanto tempo materializar seu objetivo
após uma longa jornada. Conheci o Gilmar Milezzi anos atrás através de uma
comunidade de escritores do falecido Orkut, e acompanhei o início da saga de
Gabriela e Michel, magicamente transportados para um mundo mágico cheio de
mistérios através de um jogo de videogame que lhes foi dado por uma criatura
muito suspeita. Ao longo dos caminhos da escrita mantive contato com Gilmar, e
soube que, como eu, ele aperfeiçoava seu bebê para um dia trazê-lo a público.
Enfim este dia chegou e o livro “Zaphir” está à venda.
A trama gira em torno de Gabriela e
Michel, dois jovens adolescentes que têm seus problemas em casa, seus dilemas
típicos da idade e seus conflitos interiores. Gabriela é uma garota atípica que
impõe respeito até nos garotos valentões da sua escola. Já Michel é um garoto
franzino e inteligente que sofre bulling. Os dois são melhores amigos um do
outro e, depois de acontecimentos excepcionalmente ruins na escola, decidem
testar um jogo de videogame que ganharam do misterioso dono de um sebo em um
bairro afastado. O estranho, que se apresentou como Icas, é perneta, negro e
baixinho, e usa um capuz vermelho, o que o faz parecido demais com o folclórico
Saci para que a semelhança seja ignorada. E, quando o jogo começa, a aventura
que se estende à frente dos garotos parece real demais, e eles não sabem se
estão vivendo uma realidade virtual ou se estão realmente em uma dimensão
paralela.
O livro apresenta várias
características clássicas da fantasia, como a presença de elfos e magos, uma
busca por joias mágicas e uma profecia. No entanto, o ponto mais forte do livro
é a construção dos personagens, principalmente os protagonistas. A entrada
deles na adolescência é marcada por conflitos emocionais e mudanças físicas,
ambos imensamente acentuados quando são transportados para o mundo fantástico
do jogo, onde devem chegar a Walka e descobrir qual é a verdadeira ligação que
têm com aquele lugar e com a profecia em curso. Lá, as mudanças intensas que sofrem,
que incluem o amadurecimento muito acelerado de Gabriela e o compartilhamento
de corpo de Michel com o elfo Bullit, os fazem divergir um do outro, e só a
grande amizade (e, talvez, algum sentimento mais entre eles), os mantêm juntos.
Para além da fantasia e dos dilemas
adolescentes, o autor levanta muitas questões filosóficas por todas as páginas,
o que leva o leitor a pensar sobre nosso plano existencial e sobre a
possibilidade de elevação espiritual, mesmo que no livro o tema seja abordado
de forma lúdica, utilizando a magia como elemento alegórico para tais
questionamentos.
Como todo livro independente, há
algumas críticas a fazer. A primeira é sobre a capa, e aqui o problema não está
na imagem, que ficou linda e sei que foi um trabalho do filho do autor, mas a
impressão ficou muito escura. Como vi a imagem original na internet, a mesma
que está neste post, sei que ela possui muito mais detalhes que a versão
impressa deixou aparecer, o que mostra que a gráfica deveria ter tido mais
cuidado. O texto em si precisa de uma nova revisão, embora eu saiba, por
contato com o autor, que este ponto foi outro deslize da gráfica, que usou um
arquivo errado na hora da impressão. Os erros não comprometem a leitura, mas
causam um pouco de desgaste, principalmente por inserir letras maiúsculas no
meio de frases, ou por não usá-las no começo de outras e por não manter o mesmo
tempo verbal em toda a narrativa, passado de pretérito para presente e vice
versa.
O bom trabalho com os personagens, a
trama bem amarrada e um final interessante que dá espaço para uma sequência,
são suficientes para dizer que Gilmar Milezzi é um autor a ser observado, e que
logo devemos ouvir falar mais sobre ele por aí. Até porque ele vem fazendo um
extenso trabalho de divulgação, fazendo de sua obra um produto profissional.
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