Já falei aqui sobre o inimigo primordial de todo escritor: a
preguiça. Mas, aliado à timidez, (que ainda é uma característica minha em menor
grau e não me prejudica hoje), eu tive outro grande obstáculo, e este ainda me
persegue: quando se trata dos meus trabalhos sou perfeccionista.
O perfeccionista não é aquele que faz tudo com perfeição,
mas o que acha que nada está bom o bastante. No meu caso meu perfeccionismo é
bem seletivo, mas foi um grande obstáculo para vencer e permitir que o Mundo de
Bhardo viesse ao mundo (frase estranha, não?). Vou explicar.
No início, passei meses e meses, depois anos e anos, vendo e
revendo o mesmo início da história. Naquela época os computadores desktop eram
raros, e eu não tinha um em casa. Passava muito tempo rascunhando a história no
verso de grandes apostilas com uma letra que parecia psicografada. Nunca
chegava ao fim porque, sempre que terminava de escrever algo novo, pensava que
o começo não estava bom e decidia revisar tudo de novo e reescrever alguma
coisa.
Foram longos anos assim, reescrevendo e reescrevendo dia
após dia. Quando me cansava eu deixava tudo de lado e passava meses debruçada
sobre uma mesa rascunhando fichas dos personagens, desenhando ilustrações dos
textos, ou ainda entretida nas minúcias do mapa do mundo, que levei cerca de
cinco anos para terminar (nesse ritmo). Devo lembrar que era uma
criança/adolescente nessa época e que a máxima dedicação que eu conseguia ter
não chegava a me manter concentrada por muito tempo. Havia também a vida real —
as tarefas de escola, as descobertas da adolescência, o início do trabalho, o
namoro e, frequentemente, as crises de enxaqueca, estas sim, paralisantes.
Quando comecei a passar o texto para o computador a coisa
pareceu fluir um pouco, mas eu continuava achando que tudo o que eu tinha feito
era amador, não estava bom e, portanto, ninguém podia ver. Pra vocês terem uma
ideia, meus pais só souberam o que é que eu tanto escrevia quando o primeiro
livro foi lançado. Eles sabiam que era sobre fantasia e aventura, mas não
tinham ouvido o nome de nenhum personagem antes, eu não falava. Pra mim, tudo
era muito cru.
Queira ou não eu estava certa. Quando finalmente me despi do
meu orgulho empinado de pensar que eu poderia escrever algo que mudaria o eixo
de rotação da Terra e aceitei que, como tantos outros, eu também posso errar, o
texto começou a fluir. Aí, quando surgiu a autopublicação e eu decidi
enfrentar, percebi que iria cair na armadilha de novo: gostando ou não, um
autor indie precisa ter muitos cuidados para sua obra não ficar parecendo
amadora demais, e poder parear com as editoras tradicionais.
Confesso que hesitei por achar que não pudesse fazer algo de
que eu fosse me orgulhar. E sabem do que mais? As editoras grandes também
erram, até com Best-Sellers! Algumas até feio demais (achei tantos erros nos
livros da série Fallen que fiquei decepcionada
com a Galera). Isso só me deu ânimo para acreditar que, se eu fizesse o meu
melhor, poderia me orgulhar do meu trabalho.
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