Sinopse
Andy McGee e sua esposa Vicky foram
usados numa experiência secreta enquanto eram adolescentes. Eles acabaram se
casando e tendo uma filhinha, Charlene "Charlie" McGee. A menina
acabou herdando os genes modificados dos pais, e nasceu com o dom da
pirocinesia, que significa que ela pode atear fogo em tudo que quiser.
Charlie, como é pequena, não sabe
controlar seus poderes, e acaba sendo avistada pela Oficina, uma sociedade
secreta que investiga e explora humanos com poderes especiais. O livro já
começa com Andy e Charlie (Vicky foi assassinada pelos capangas da Oficina,
como lido em um flashback) fugindo de seus algozes.
A trama continua com a fuga
desesperada de um pai tentando de todas as maneiras salvar a filha, contando
com a ajuda de uns, Andy percebe que para escaparem dessa, Charlie talvez tenha
que usar seus poderes para matar.
Em seu encalço está o melhor agente
da Oficina, Rainbird, um estranho índio que quer matar Charlie e olhar nos seus
olhos, pois acredita que terá uma grande revelação por ela ser especial.
As chances de sobrevivência são
mínimas, mas Andy e Charlie não desistirão sem lutar.
Fonte: http://www.skoob.com.br/livro/4617-
Considerações
Da primeira vez que tive A Incendiária nas mãos não tive coragem de ler. Na ocasião
eu tinha em mãos este livro e Tripulação de Esqueletos,
do mesmo autor, uma coletânea de contos de terror que me garantiram noites de
pesadelos durante bons meses. Meu irmão ficou com A
Incendiária enquanto eu me recuperava de histórias tão arrepiantes
que hoje, cerca de dez anos depois, ainda me causam espanto. Acho que só este
relato já é uma propaganda suficientemente boa para dizer que Stephen King é um
mestre. Falta uma capa melhorzinha, porque, mesmo não podendo julgar um livro
pela capa, é fato que as capas ruins não atraem muitos leitores.
Diferente do conhecido terror de
King, A Incendiária tem uma pegada mais thriller,
de suspense, se tornou um Best Seller na época de lançamento (1980), e só lendo
para entender o porquê. É fabuloso ter nas mãos um sucesso tão grande, e poder
buscar inspiração no modo como o autor vai, pouco a pouco, nos aproximando de
seus protagonistas, e nos fazendo amá-los e torcer por eles.
A trama gira em torno de Andy e sua
filha de sete anos. No passado, Andy participou de um macabro experimento com
uma substância desconhecida, que lhe proporcionou a capacidade de expandir o
poder de sua mente. Após a experiência e contra todas as previsões dos pesquisadores,
Andy e Vicky, ambos cobaias, se apaixonaram e se casaram, e têm uma filha
chamada Charlie, que desde bebê já demonstra ter estranhos poderes. Charlie
pode provocar incêndios, e tamanho é seu poder que Andy a ensina não usar jamais
aquela força, temendo que ela coloque fogo em si mesma. Porém os pesquisadores
da Oficina, órgão secreto ligado ao
governo, que fizeram os testes no casal, jamais deixaram de monitorá-los e, num
determinado dia, investem contra a família com o único objetivo de capturar Charlie.
A história começa já na fuga de Andy
e Charlie, e desde o início descobrimos que os poderes de Andy não são
ilimitados, pois lhe causam uma dor excruciante e incapacitante de cabeça. Por
vezes, Charlie é quem ajuda o pai a se manter alerta, mesmo sendo apenas uma
criança pequena. Durante a fuga, Charlie demonstra seu talento apenas algumas
vezes, só quando não há outra opção, mas quando acontece, sabemos que ela não
tem controle sobre seu dom, e que ele pode ser ainda maior do que conseguimos
vislumbrar, mesmo como leitores. Após ser capturada e feita prisioneira,
acompanhamos o sádico Rainbird, um índio mercenário que deseja a satisfação de
ele próprio tirar a vida da menina, para tentar descobrir, assim, algum sentido
para a própria.
A comparação com outro sucesso
fenomenal de King, Carrie, a Estranha, é
inevitável, já que as duas personagens são garotas com poderes psíquicos. No
entanto, Carrie vai mais para o lado do terror, enquanto, para mim, Charlie
fica no suspense e na ação. Além disso, Charlie é uma criança, e conseguimos enxergá-la
como tal pela maneira como o autor consegue retratar suas mudanças psicológicas
típicas da infância: se no início a palavra do pai é a lei, à medida que ela
cresce pequenos conflitos internos começam a transparecer, ainda marcados pela
dualidade que existe na psique infantil: o certo é certo e pronto, e o errado é
errado e pronto. Conseguimos compreender a culpa que a garota sente ao começar
a usar sua força, mesmo contra os desejos de seu pai, e também o prazer que ela
tem ao conseguir controlá-la, e é possível estabelecer comparações de como os
adolescentes começam a experimentar e se esbaldar com pequenos prazeres
proibidos a ela na infância e concedidos quando começam a se tornar maduros o
suficiente para desfrutar deles: fazer uma compra sozinhos, usar maquiagem,
depois beber, dirigir, etc. Charlie consegue passar esta excitação quando
começa a desfrutar de seus próprios talentos, antes proibidos.
Andy é um personagem um tanto
ingênuo, coisa que podemos perceber desde que se voluntariou para o experimento
que lhe deu capacidades paranormais, pois, apesar de suspeitar dos
pesquisadores e do que teria acontecido realmente durante o teste, não lhe
passa pela cabeça ter continuado a ser monitorado até que a Oficina mata sua
esposa. A descrição das dores de cabeça de Andy me fez criar uma simpatia
enorme pelo personagem, pois me lembrei das minhas piores crises de enxaqueca
exatamente daquele jeito (só que sem os poderes de dominação mental que o cara
tem, né?). O autor consegue nos fazer torcer pelos mocinhos de tal forma que,
apesar de conseguirmos ver o lado dos vilões a respeito da ameaça que Charlie
representa, nós desejamos que ela seja vitoriosa, e torcemos pra que ela ponha
fogo em tudo o que encontre pela frente. E, depois de uma fuga exaustiva e um
confinamento injusto, o clímax do livro é exatamente da forma como todo leitor
vai desejar: épico.
O livro é envolvente, a narrativa vai
e volta no tempo, dando novas nuances aos personagens e informações sobre a
trama e, para os fãs das continuações, seria possível encaixar uma a partir do
finalzinho, muito embora isto não seja absolutamente necessário. Tanto que o
livro é apenas um, uma história com começo, meio e fim e, no entanto, foi feita
uma adaptação para o cinema, com a atriz Drew Barrymore ainda criança
interpretando Charlie (Chamas da Vingança, 1984), e uma continuação, que dá
continuidade à história original, mas que não é de Stephen King (Vingança em
Chamas, 2002).
Para completar e provar que a
história é mesmo boa, em maio deste ano a TNT anunciou a produção de uma série
televisiva inspirada no livro, “The Shop”, que trará Charlie de volta à ativa,
agora adulta e procurando desmascarar os planos da Oficina, mesma organização
que fez experimentos em seus pais e acabou criando A Incendiária (fonte: http://www.kingofmaine.com.br/noticias/a-incendiaria-sera-adaptada-pela-tnt/)
Quem tiver a oportunidade não pode
deixar de ler este clássico de King. E, como a história continua quente por aí,
talvez chegue logo uma nova edição às livrarias, com uma capa mais
interessante. Não perca a oportunidade de conferir esta história!
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