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8 de nov. de 2014

A Incendiária – Stephen King (Resenha)


Sinopse

Andy McGee e sua esposa Vicky foram usados numa experiência secreta enquanto eram adolescentes. Eles acabaram se casando e tendo uma filhinha, Charlene "Charlie" McGee. A menina acabou herdando os genes modificados dos pais, e nasceu com o dom da pirocinesia, que significa que ela pode atear fogo em tudo que quiser.

Charlie, como é pequena, não sabe controlar seus poderes, e acaba sendo avistada pela Oficina, uma sociedade secreta que investiga e explora humanos com poderes especiais. O livro já começa com Andy e Charlie (Vicky foi assassinada pelos capangas da Oficina, como lido em um flashback) fugindo de seus algozes.
A trama continua com a fuga desesperada de um pai tentando de todas as maneiras salvar a filha, contando com a ajuda de uns, Andy percebe que para escaparem dessa, Charlie talvez tenha que usar seus poderes para matar.

Em seu encalço está o melhor agente da Oficina, Rainbird, um estranho índio que quer matar Charlie e olhar nos seus olhos, pois acredita que terá uma grande revelação por ela ser especial.
As chances de sobrevivência são mínimas, mas Andy e Charlie não desistirão sem lutar.
Fonte: http://www.skoob.com.br/livro/4617-



Considerações

Da primeira vez que tive A Incendiária nas mãos não tive coragem de ler. Na ocasião eu tinha em mãos este livro e Tripulação de Esqueletos, do mesmo autor, uma coletânea de contos de terror que me garantiram noites de pesadelos durante bons meses. Meu irmão ficou com A Incendiária enquanto eu me recuperava de histórias tão arrepiantes que hoje, cerca de dez anos depois, ainda me causam espanto. Acho que só este relato já é uma propaganda suficientemente boa para dizer que Stephen King é um mestre. Falta uma capa melhorzinha, porque, mesmo não podendo julgar um livro pela capa, é fato que as capas ruins não atraem muitos leitores.

Diferente do conhecido terror de King, A Incendiária tem uma pegada mais thriller, de suspense, se tornou um Best Seller na época de lançamento (1980), e só lendo para entender o porquê. É fabuloso ter nas mãos um sucesso tão grande, e poder buscar inspiração no modo como o autor vai, pouco a pouco, nos aproximando de seus protagonistas, e nos fazendo amá-los e torcer por eles.

A trama gira em torno de Andy e sua filha de sete anos. No passado, Andy participou de um macabro experimento com uma substância desconhecida, que lhe proporcionou a capacidade de expandir o poder de sua mente. Após a experiência e contra todas as previsões dos pesquisadores, Andy e Vicky, ambos cobaias, se apaixonaram e se casaram, e têm uma filha chamada Charlie, que desde bebê já demonstra ter estranhos poderes. Charlie pode provocar incêndios, e tamanho é seu poder que Andy a ensina não usar jamais aquela força, temendo que ela coloque fogo em si mesma. Porém os pesquisadores da Oficina, órgão secreto ligado ao governo, que fizeram os testes no casal, jamais deixaram de monitorá-los e, num determinado dia, investem contra a família com o único objetivo de capturar Charlie.

A história começa já na fuga de Andy e Charlie, e desde o início descobrimos que os poderes de Andy não são ilimitados, pois lhe causam uma dor excruciante e incapacitante de cabeça. Por vezes, Charlie é quem ajuda o pai a se manter alerta, mesmo sendo apenas uma criança pequena. Durante a fuga, Charlie demonstra seu talento apenas algumas vezes, só quando não há outra opção, mas quando acontece, sabemos que ela não tem controle sobre seu dom, e que ele pode ser ainda maior do que conseguimos vislumbrar, mesmo como leitores. Após ser capturada e feita prisioneira, acompanhamos o sádico Rainbird, um índio mercenário que deseja a satisfação de ele próprio tirar a vida da menina, para tentar descobrir, assim, algum sentido para a própria.

A comparação com outro sucesso fenomenal de King, Carrie, a Estranha, é inevitável, já que as duas personagens são garotas com poderes psíquicos. No entanto, Carrie vai mais para o lado do terror, enquanto, para mim, Charlie fica no suspense e na ação. Além disso, Charlie é uma criança, e conseguimos enxergá-la como tal pela maneira como o autor consegue retratar suas mudanças psicológicas típicas da infância: se no início a palavra do pai é a lei, à medida que ela cresce pequenos conflitos internos começam a transparecer, ainda marcados pela dualidade que existe na psique infantil: o certo é certo e pronto, e o errado é errado e pronto. Conseguimos compreender a culpa que a garota sente ao começar a usar sua força, mesmo contra os desejos de seu pai, e também o prazer que ela tem ao conseguir controlá-la, e é possível estabelecer comparações de como os adolescentes começam a experimentar e se esbaldar com pequenos prazeres proibidos a ela na infância e concedidos quando começam a se tornar maduros o suficiente para desfrutar deles: fazer uma compra sozinhos, usar maquiagem, depois beber, dirigir, etc. Charlie consegue passar esta excitação quando começa a desfrutar de seus próprios talentos, antes proibidos.

Andy é um personagem um tanto ingênuo, coisa que podemos perceber desde que se voluntariou para o experimento que lhe deu capacidades paranormais, pois, apesar de suspeitar dos pesquisadores e do que teria acontecido realmente durante o teste, não lhe passa pela cabeça ter continuado a ser monitorado até que a Oficina mata sua esposa. A descrição das dores de cabeça de Andy me fez criar uma simpatia enorme pelo personagem, pois me lembrei das minhas piores crises de enxaqueca exatamente daquele jeito (só que sem os poderes de dominação mental que o cara tem, né?). O autor consegue nos fazer torcer pelos mocinhos de tal forma que, apesar de conseguirmos ver o lado dos vilões a respeito da ameaça que Charlie representa, nós desejamos que ela seja vitoriosa, e torcemos pra que ela ponha fogo em tudo o que encontre pela frente. E, depois de uma fuga exaustiva e um confinamento injusto, o clímax do livro é exatamente da forma como todo leitor vai desejar: épico.

O livro é envolvente, a narrativa vai e volta no tempo, dando novas nuances aos personagens e informações sobre a trama e, para os fãs das continuações, seria possível encaixar uma a partir do finalzinho, muito embora isto não seja absolutamente necessário. Tanto que o livro é apenas um, uma história com começo, meio e fim e, no entanto, foi feita uma adaptação para o cinema, com a atriz Drew Barrymore ainda criança interpretando Charlie (Chamas da Vingança, 1984), e uma continuação, que dá continuidade à história original, mas que não é de Stephen King (Vingança em Chamas, 2002).

Para completar e provar que a história é mesmo boa, em maio deste ano a TNT anunciou a produção de uma série televisiva inspirada no livro, “The Shop”, que trará Charlie de volta à ativa, agora adulta e procurando desmascarar os planos da Oficina, mesma organização que fez experimentos em seus pais e acabou criando A Incendiária (fonte: http://www.kingofmaine.com.br/noticias/a-incendiaria-sera-adaptada-pela-tnt/)

Quem tiver a oportunidade não pode deixar de ler este clássico de King. E, como a história continua quente por aí, talvez chegue logo uma nova edição às livrarias, com uma capa mais interessante. Não perca a oportunidade de conferir esta história!



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