Todos fazemos referência direta ou indiretamente a pessoas
que conhecemos e a histórias que vivemos ao escrever uma história. A “Canção de
Alerta”, música entoada pelas maellem’z –
espíritos dos afogados - antes das sentinelas ingressarem no lago da sereia
Yara (MdB – Os Objetos Supremos) é um desses trechos que não surgiu por acaso.
Em primeiro lugar, tenho que contar que não sou a primeira
escritora da família. Meu avô escreveu dois livros sobre suas viagens pelas
rodovias pouco desbravadas do Brasil à época dele, uma em especial, a
“Transbrasiliana”. Também era poeta, e escrevia poemas
para minha avó (romântico, não?). E minha avó, também poetisa, tem um
livro publicado além de centenas de poesias que saíram nos jornais de Rio
Bonito e região ao longo de décadas.
Lembro, quando eu era criança, de alguns versos de uma canção
que ela costumava cantar para os netos quando estávamos na casa de Iguaba Grande, onde eu costumava passar as férias. Era mais ou menos assim: “Nossa Senhora vem com os anjinhos a remar… Rema, rema, pescadores… Que
essas águas são de flores…” Sempre que ouvia essa música uma imagem me
vinha à cabeça: pescadores em solitárias canoas, navegando por rios de água verde
cobertos de flores, com faias de árvores preguiçosas pendendo às suas margens.
Era uma visão que me acalmava e induzia ao sono, ao sonho.
Quando escrevi sobre a entrada das sentinelas no território
de Yara, e sobre como os jovens Márcio e Shenu caíram nos encantos da sereia, eu
sabia exatamente como deveria ser o rio e o lago da sereia, e me ocorreu essa
música, que se transformou nos versos que compõem a “Canção de Alerta”, que
os espíritos que vivem nas águas cantam para os três viajantes.
“’Onde vai pescador?
Que essas águas são
de flor!
‘Onde vai pescador,
Se não vai para pescar?
‘Onde vai pescador?
Não macule essas águas!
Que essas águas, que essas águas,
Que essas águas são de Yara.
‘Onde vai pescador?
Volta para tua casa!
‘Onde vai, onde vai?
Volta ao reino dos mortais!
‘Onde vai pescador?
É melhor que vá embora!
Que essas águas, que essas águas,
Que essas águas são de Yara.
Porque entrar no rio que pertence à mãe d’água
É jogar-se à perdição e levar a vida a nada.
Vá-se embora, pescador, não macule essa morada
Que essas águas, que essas águas,
Que essas águas são de Yara.”
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