Todas as pessoas têm uma série de qualidades que as abonam
para alguma coisa, mas posso dizer que disciplina e organização não costumavam
ser as minhas. Eu não me lembro de jamais ter deixado de entregar um trabalho
ou uma lição da escola, mas normalmente terminava os exercícios na classe,
minutos antes do professor recolher os trabalhos. Em casa, deixava minha mãe
louca com o “já vou”. “Já vou recolher a roupa espalhada”, “já vou lavar a
louça”, “já vou guardar as minhas tralhas”. A maior parte do tempo eu estava
sempre no mundo da lua (ou deveria dizer no Mundo de Bhardo?). Mas, alguns anos
atrás e já adulta, alguns fatos na vida me fizeram repensar e colocar a cabeça
no lugar.
Aconteceu o seguinte: depois de alguns anos trabalhando numa
empresa privada, pedi demissão para trabalhar por conta. Não deu certo, entrei
em outra empresa privada mas, antes de completar um ano, me vi sem emprego.
Na época eu tinha vinte e três anos, um diploma na gaveta e
nenhuma perspectiva. Preciso esclarecer: a cidade em que moro tem três
universidades e uma população média, há um grande número de estagiários e
pouquíssimas chances de crescimento profissional, isso em diversas áreas. E eu
estava noiva, não desejava me mudar, nem teria condições de me manter em outra
cidade por muito tempo à procura de emprego.
Ansiosa, recebendo as parcelas do seguro desemprego e
enviando currículos para a cidade inteira, a última coisa que me passava pela
cabeça era escrever. Então tomei uma decisão acertada, que não só acabou por
resolver meu problema com o trabalho, como também transformou meu modo de
planejar diversas coisas, inclusive a escrita: resolvi estudar para concursos.
À princípio a ideia era só passar em
uma prova, o que significa acertar pelo menos a metade, um jeito de provar a mim
mesma que eu podia ser boa em alguma coisa e, assim, elevar minha auto
estima. Fiz do estudo meu trabalho, e peguei uma porção de dicas de como criar
uma rotina eficiente. Separei as matérias para os concursos, dividi o número de
páginas que precisava ler pelos dias que tinha até a prova, obriguei-me a
estudar oito horas por dia, em turnos de cinquenta minutos com paradas de dez.
Naquele primeiro concurso fiquei em 7° lugar de 186 pessoas, mas a chamada
parou no 4° colocado, e expirou sem que nem ele tivesse assumido a vaga.
A boa colocação me deu ânimo para continuar prestando
concursos e ingressei no serviço público em 2009, setor em que trabalho até
hoje no terceiro cargo para o qual fui chamada. Criar um
plano de trabalho se tornou algo tão prático e eficiente que hoje eu consigo
aplicar aos meus textos — e é com esse planejamento que comecei a minha
conspiração para dominar o mundo (dos leitores, claro).
Aos poucos vou colocar os cronogramas que eu utilizo, os
rascunhos, as tabelas e, se algo servir para você, aproveite. Se não servir,
bom, serve como prova do grau de obsessão a que uma escritora pode chegar para
levar sua história ao fim — e, de preferência, ao leitor.
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